COMPROMISSOS PARA O ACORDO CLIMÁTICO
A humanidade se encontra diante de um cenário que pode ser considerado catastrófico, já que os problemas de maior visibilidade não foram criados recentemente. Desde a era pré-industrial, os humanos vêm produzindo energia por meio da queima de combustíveis fósseis, processo este que está liberando grandes concentrações de dióxido de carbono – CO2 na atmosfera. Não obstante, outros processos antropogênicos – atividades humanas – têm provocado mudanças no uso da terra, assim como a conversão de florestas para cultivo da terra. Abrindo e queimando a floresta para preparo da terra para a agricultura, causam mudanças nas características da vegetação, incluindo a coloração, crescimento sazonal e a satisfação do ciclo do carbono. Reduzindo o estoque de carbono na vegetação e de solo estocado, adicionando CO2 para a atmosfera, provocam mudanças de reflexibilidade da terra, influenciando a evapotranspiração e as emissões de ondas longas, gerando o aumento na temperatura média da superfície da Terra e mudanças nos padrões climáticos mundiais. O aquecimento global, combinado com a expansão urbana e os problemas de desenvolvimento permite projetar para este século um cenário sombrio, no qual o número de atingidos e o custo das tragédias para a economia só tendem a crescer, e ninguém será poupado.
A ciência do clima nos deu dois parâmetros a perseguir para minimizar os danos. O primeiro é um número pequeno: 2°C. Esse é o limite de aquecimento global que os governos mundiais que aprovaram o Acordo de Paris chamaram de “seguro”, quando concordaram em evitá-lo. O segundo parâmetro é um número grande: 1 trilhão de toneladas. Isso é tudo o que a humanidade pode emitir de CO2 equivalente (tCO2e), de gases de efeito estufa até o ano de 2.100 para ter uma chance de evitar que a barreira dos 2°C seja rompida. Parece muito, mas todo ano nós emitimos 50 bilhões de toneladas. Esse “orçamento” de carbono formou o pano de fundo das metas de redução de emissões que os governos mundiais apresentaram este ano na COP21 (Conferência das Partes), que ocorreu entre 30 de novembro a 12 de dezembro de 2015, em Paris. Essas metas são conhecidas como INDCs, ou Contribuições Nacionalmente Determinadas Pretendidas. Para o Brasil, um esforço compatível com sua responsabilidade e sua capacidade seria chegar a 2.030 emitindo no máximo 1 bilhão de toneladas de CO2 equivalente por ano.
Neste sentido, o Observatório do Clima apresentou uma receita de como fazer isso: será preciso zerar o desmatamento – não só o ilegal, como prometeu a presidente – limitar as emissões por uso de energia a cerca de 617 milhões de toneladas de CO2 equivalente e as do setor agropecuário a 280 milhões de toneladas de CO2 equivalente. Manter esse limite pressupõe uma ação em políticas públicas sem paralelo no país desde a era Vargas. Isso inclui recuperar milhões de hectares em pastagens degradadas, ter 60% dos carros flex rodando com álcool em 2.030 e congelar a expansão das termoelétricas a óleo e a carvão. Se o desafio é grande, as oportunidades também são. Todas as tecnologias consideradas estão disponíveis no país. Mitigar emissões na agricultura significa aumentar a renda do produtor. Nos transportes, significa ressuscitar a indústria dos biocombustíveis. Não entraram nesta conta os benefícios colaterais de tal ação, tais como: cidades mais habitáveis e menos vulneráveis, população mais saudável, um país mais verde, com maior biodiversidade e acesso aos serviços prestados pelos ecossistemas, como água potável. Será que nós estamos preparados para isto?Marco Alegre